Opinião
O novo vídeo de Dia dos Namorados do Magalu, estrelado pela influenciadora virtual Marisa Maiô, acende um alerta preocupante entre profissionais da cultura, especialmente artistas, figurinistas, roteiristas e técnicos da indústria audiovisual, aleém de atores, tendo em vista que não há nenhum ser respirante na produção feita com IA.
A a personagem viral do criador de conteúdo Raony Phillips foi escolhida pela empresa para protagonizar um merchandising completo, com roteiro, atuação e estética totalmente digital, sem gerar um único emprego real.
A campanha, celebrada pelo marketing da companhia como “inovadora” e “comunicando com o público onde ele está”, é apontada como mais um passo rumo à substituição da mão de obra artística por soluções tecnológicas que economizam nos custos, mas custam caro em termos sociais e criativos.
A personagem
É uma personagem virtual com roupas feitas por IA, cenário gerado por IA, voz sintética e roteiro provavelmente também auxiliado por IA. Parece engraçado, parece moderno, mas o que temos é uma empresa bilionária deixando de contratar atores, produtores, figurinistas e redatores para apostar em uma solução que não gera renda.
Com o avanço da IA generativa, especialistas e pessoas que trabalham no meio já alertavam que a publicidade seria um dos primeiros setores a substituir profissionais criativos por conteúdos gerados artificialmente.
O caso de Marisa Maiô simboliza esse movimento: o que antes poderia empregar uma equipe inteira para construir um programa de auditório fictício virou um vídeo solo feito por um criador de conteúdo e seus softwares.
É desleal. Enquanto artistas enfrentam a escassez de editais, corte de verbas e insegurança no trabalho, grandes marcas usam humor com IA para vender produto sem retorno social. Marisa Maiô pode ser carismática, mas IA não paga aluguel e não compra pão na padaria.
A crítica não é contra a personagem em si, que, de fato, tem talento narrativo e timing cômico, mérito de Raony Phillips. Mas a questão é estrutural: ao celebrar essa “inovação” como uma substituição e não como complemento, o mercado cria um modelo onde criatividade humana se torna descartável, enquanto algoritmos ditam o tom, o rosto e a fala da propaganda.
Para muitos, é hora de parar e refletir: a quem serve essa nova publicidade? E o que acontece com os milhares de profissionais reais quando as marcas escolhem investir em personagens que não respiram?
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